sábado, 28 de março de 2009


Imagem: Heraclitus, de Johannes Moreelse.

HERÁCLITO DE EFESO – Heráclito nasceu em Efeso, cidade da Jônia, de família que ainda conservava prerrogativas reais descendentes do fundador da cidade. Seu caráter altivo, misantrópico, e melancólico ficou proverbial em toda a antiguidade. Desprezava a plebe. Recusou-se sempre a intervir na política. Manifestou desprezo pelos antigo poetas, contra os filósofos de seu tempo e até contra a religião. Sem ter tudo mestre, ele escreveu um livro em prosa, no dialeto jônico, mas de forma tão concisa que recebeu o cognome de Skoteinós, o Obscuro. É por muitos considerado o mais eminente pensador pré-socratico por formular com vigor o problema da unidade permanente do ser diante da pluralidade e mutabilidade das coisas particulares e transitórias. Estabeleceu a existência de uma lei universal e fixa (o Lógos), regedora de todos os acontecimentos particulares e fundamento da harmonia universal, garmonia feita de tensões como a do arco e da lira.
Com Heráclito de Êfeso,a filosofia pré-socratica afirma-se na Ásia Menor. Heraclito, de raça jônica e de estirpe real, solitário desdenhoso e desprezador da azafama vulgar, mais moço do que Pitágoras, viveu entre o VI e V século, e expôs o seu sistema numa obra filosófica intitulada “Da natureza”, que existe apenas fragmentos algo extensos. A doutrina dele pode-se resumir nos princípios seguintes: 1º a essência, o elemento primordial, é o vir-a-ser, tudo se acha em perpetuo fluxo, a realidade está sujeita a um vir-a-ser continuo. O único principio estável da realidade é a lei universal do próprio devir, que Heraclito concretiza no fogo (racional) visto ser o elemento da realidade material mais adequado a representar o vir-a-ser. Unicamente a razão, que tem por objeto o universal, colhe esta lei do devir universal. 2º o vir-a-ser é antítese, luta, revezar-se de vida e de morte: a luta é regra do mundo e a guerra é a geradora e dominadora de todas as coisas. 3º este vir-a-ser e esta oposição são reconduzidos à estabilidade e à unidade pela harmonia, pela sabedoria universal, que determinam o acordo entre as oposições. A unidade do real está na lei dialética, racional, do vir-a-ser; a causa da diferenciação das coisas está no devir.
“Este mundo, que é o mesmo para todos, nenhum dos deuses ou dos homens o fez; mas foi sempre, é e será um fogo eternamente vivo, que se acende com medida e se apaga com medida” – nessa frase muitos vêem uma das chaves para a decifração do pensamento de Heráclito. A apresentaçãoa forismática de seu pensamento e o estilo intencionalmente sibilino fazem dele um dos pensadora de mais difícil interpretação. Natural, portanto, que a história da filosofia apresente uma sucessão de verdades de seu pensamento dependentes sempre da perspectiva assumida pelo próprio interprete. Para a solução do problema heraclitiano dois pontos parecem oferecer as bases mais seguras. A primeira, o confronto das proposições dele com seu contexto cultural, o que o próprio filosofo parece indicar, na medida em que se apresenta como critico implacável de idéias e personagens de sua época ou da tradição cultural grega. A segunda, o estilo dele a revelar um uso peculiar da linguagem. Se há aforismos dele que não manifestam obscuridade são justamente os de cunho critico. Aristocrata, ele não afirma apenas que um só é dez mil para mim, se é melhor, como também faz acerbas acusações à mentalidade vulgar desses homens que não sabem o que fazem quando estão despertos, do mesmo modo que esquecem o que fazem durante o sono. A religiosidade popular é também vergastada: “Os mistérios praticados entre os homens são mistérios profanos”. E explica: “É em vão que eles se purificam sujando-se de sangue, como um homem que tivesse andado na lama e quisesse lavar os pés na lama”. Mas nem alguns dos nomes mais referenciados na época são poupados: “O fato de aprender muitas coisas não instrui a inteligência; do contrário teria instruído Hesiodo e Pitagoras, do mesmo modo que Xenofanes e Hecateu”. Noutro aforismo Pitágoras é acusado de possuir uma polimatia, conhecimento de muitas coisas que não passava de uma arte de maldade, enquanto Hesiodo, o mestre da maioria dos homens, os homens pensam que ele sabia muitas coisas, ele que não conhecia o dia ou a noite. Nem Homero escapa: “Homero errou em dizer? Possa a discórdia de extinguir entre os deuses e os homens”. Ele não via que suplicava pela destruição d universo; porque, se sua prece fosse atendida, todas as coisas pereceriam”. Em meio a tantas criticas, Heraclito abre, entretanto, uma exceção: para a Sibila, que com seus lábios delirantes diz coisas sem alegria, sem ornatos e sem perfume, mas que atinge com sua voz para além de mil anos, graças ao deus que está nela. Percebe-se, dessa maneira, que a adoção do estilo oracular é intencional nele, que encontra a via adequada – indireta, sugestiva – para comunicar seu pensamento: “O mestre a que pertence o oráculo de Delfos não exprime nem oculta seu pensamento, mas o faz ver através de um sinal”. O exemplo do deus de Delfos e da Sibila parece mostrar a ele a diferença que separa as palavras do pensamento (logos), a mesma que distancia a inteligência privada – o sono em que está imersa a mentalidade vulgar – da inteligência comum, a vigília daquele que se eleva acima dos muitos conhecimentos e reconhece que todas as coisas são um.
O que diz o Logos, do qual Heráclito se faz enunciador e em nome do qual condena o torpor da multidão ou a polimatia dos supostos sábios, é isto: a unidade fundamental de todas as coisas. Essa é a natureza que gosta de se ocultar. Mas a noção de unidade fundamental, subjacente à multiplicidade aparente, já estava expressa pelo menos desde Anaximandro de Mileto. A Heraclito – e que lhe permite julgar tão duramente seus antecessores e contemporâneos – está, na verdade, em considerar aquela unidade de tensões opostas. Esta teria sido, sua grande descoberta: existe uma harmonia oculta das forças opostas, como a do arco e a da lira. A razão (logos) consistiria precisamente na unidade profunda que as oposições aparentes ocultam e sugerem: Os contrários, em todos os níveis da realidade, seriam aspectos inerentes a essa unidade. Não se trata, pois, de que o Um ao Multiplo, como Xenofanes e o eleatismo: o Um penetra o Multiplo e a multiplicidade é apenas uma forma da unidade, ou melhor, a própria unidade. Daí a insuficiência do uso corrente das palavras: somente o logos (razão-discurso) do filosofo consegue apreender e formular – não ao ouvido mas ao espírito, não diretamente mas por via de sugestões sibilinas – aquela simultaneidade do múltiplo (mostrado pelos sentidos) e da unidade fundamental descortinada pela inteligência desperta em vigília. Proclama Heráclito: “É sábio escutar não a mim, mas a meu discurso (logos), e confessar que todas as coisas são Um”. O Logos seria a unidade nas mudanças e nas tensões, a reger todos os planos da realidade: o fisico, o biológico, o psicológico, o político, o moral. É a unidade nas transformações: “Deus é dia-noite, inverno-verão, guerra-paz, superabundância-fome; mas ele assume formas variadas, do mesmo modo que o fogo, quando misturado a aromatas, é denominado segundo os perfumes de cada um deles. Por isso Homero errara em pedir que cessasse a discórdia entre os deus e os homens: “O que varia está de acordo comigo mesmo”. A harmonia não é aquela que Pitágoras propunha, de supremacia do Um, nem a verdadeira justiça é a que Anaximandro havia concebido, ou seja, a extinção dos confins e das tensões através da compensação dos excessos de cada qualidade-substancia em relação a seu oposto. A justiça não significa apaziguamento. Pelo contrário: “O conflito é o pai de todas as coisas: de alguns faz homens; de alguns, escravos; de alguns, homens livres. Mas ver a realidade como fundamentalmente uma tensão de opostos não significa necessariamente optar pela guerra, no plano político; guerra, neste ultimo sentido, é apenas um dos pólos de uma tensão permanente. E essa tensão, que constitui a verdadeira harmonia, necessita, para perdurar, de ambos os opostos. Numa serie de aforismos, Heraclito enfatiza o caráter mutável da realidade, repetindo uma tese que já surgira nos mitos arcaicos e, com dimensão filosófica, desde os milesianos. Mas nele a noção de fluxo universal torna-se um mote insistenetemente glosado: “Tu não podes descer duas vezes no mesmo rio, porque novas águas correm sempre sobre ti”. O imperio do Logos em sua feição física aparece então como as transformações do fogo, que são em primeiro lugar, mar; e a metade do mar e terra e a outra metade vento turbilhonante. O logos-fogo exerce uma função de racionalização nas trocas substanciais análoga à que a moeda vinha desempenhando na Grecia desde o séc. VII: “Todas as coisas são trocadas em fogo e o fogo se troca em todas as coisas, como as mercadorias se trocam por ouro e o ouro é trocado por mercadorias”. Todavia, as transformações que integram o fluxo universal não significam desgoverno e desordem; pelo contrário, o Logos-Fogo é também Razão universal e, por isso, impôs medidas ao fluxo: “Este mundo (...) foi sempre, é e será sempre um fogo eternamente vivo, que se acende com medida e se apaga com medida”. A regularidade e a medida são garantidas pela simultaneidade dos dois caminhos de transformação que compõem o fluxo universal: é ao mesmo tempo que ocorre a troca do fogo em todas as coisas, de todas as coisas em fogo, pois “o caminho para o alto e o caminho para baixo são um mesmo”. Isso permite então afirmar: “(...) e a metade do mar é terra, a metade vento turbilhonante”. Assim, o que garante a tensão intrínseca às coisas é aquilo mesmo que as sustenta: a medida imposta pelo Logos, essa harmonia oculta que vale mais que harmonia aberta. A consciência da fugacidade das coisas gera uma nota de pessimismo que atravessa o pensamento de Heráclito: “O homem é acendido e apagado como uma luz no meio da noite!. Mas o pessimismo advem, sobretudo, de reconhecer o torpor em que vive a maioria dos homens, ignorantes da lei universal que tudo rege. Por isso o discurso (logos) do filosofo, embora pretendendo ser a manifestação da razão universal (logos), exprime-se como um solitario mono-logos acima dos homens comuns, “esses loucos que quando ouvem são como surdos”.

FONTES:
ARANHA, Maria Lucia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução à Filosofia. São Paulo: Moderna, 1994.
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Atica, 2002.
MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
PADOVANI, Umberto; CASTAGNOLA, Luis. Historia da Filosofia. São Paulo: Melhoramentos, 1978.
PESSANHA, José Américo Motta (Org). Os pré-socraticos. São Paulo: Abril, 1978.
SOUZA, José Cavalcante. Os pré-socrático. São Paulo: Abril, 1978.

DEBATE: HUSSERL & A FENOMENOLOGIA



HUSSERL & A FENOMENOLOGIA

Luiz Alberto Machado

O filósofo e matemático alemão Edmundo Husserl ( Gustav Albrecht Edmund Husserl - 1859-1938) foi o fundador da fenomenologia. Ele estudou nas universidades de Leipzig, de Berlim e de Viena, iniciando a carreira de professor em 1883, abandonando o posteriormente e se dedicando a escrever seus ensaios. Quando ele morreu em 1938, em Freiburg, deixou uma vasta gama de ensaios que foram posteriormente reunidos como Arquivos Husserl.
Em sua obra Investigações Lógicas (1900-1901) foi onde ele definiu sua filosofia como a análise da experiência que está por trás de todo o pensamento formal. É nela onde aparecem os primeiros sinais do método fenomenológico que se envolveu com as questões clássicas da filosofia desde Descartes, quando Husserl travou uma discussão da obra do filósofo francês: Meditações Cartesianas. A partir disso, a fenomenologia passa a servir de fonte para vários filósofos, em especial aos ligados ao existencialismo, chegando-se, inclusive, a se falar de uma sociologia, uma psicologia e uma teoria literária fenomenológicas. Isto porque o método voltou-se principalmente para as artes, nas quais proporciona um novo modo de consideração das obras artísticas. Depois, lança as bases sólidas da teoria da fenomenologia.
A partir de uma revisão na literatura, há que se entender, antes porem, que a Fenomenologia é uma corrente iniciada por Husserl ao pretender o estabelecimento de um método de fundamentação da filosofia e da ciência, baseada no conceito de fenômeno, ou seja, aquilo que é percebido pela consciência, no sentido de proceder a investigação da vida perceptiva, defendendo que a percepção tona possível a consciência dos objetos do mundo, como o juízo, a memória e os atos subjetivos. Estes, segundo ele, podem ser submetidos ao exame pela faculdade superior da consciência, entendia pelo autor como o eu transcendental, que é responsável pela síntese que torna possível a apreensão de objetos.
Muitas transformações ocorreram no pensamento fenomenológico até chegar em reorganizações conceituais que redundaram na formulação programática feita por Husserl no começo do século XX, quando a fenomenologia tornou-se mundialmente bem–aceita e tem influenciado discussões teóricas até hoje; ela introduziu uma forma prática no domínio teórico da filosofia, assim como no campo das ciências humanas e naturais.
A partir das investigações lógicas de Husserl ficou estabelecido por ele que a investigação deve ater-se ao modo como as coisas aparecem ao homem, como ele unifica a multiplicidade de aparições e como projeta significações sobre os objetos percebidos.
Para o fenomenólogo, não existe a consciência pura, mas sempre a "consciência de alguma coisa". Esse conceito, fundamental para a fenomenologia, é chamado de intencionalidade. Além disso, a atenção dispensada ao olhar, à percepção, à imaginação, às coisas e ao outro faz o método fenomenológico ir além das fronteiras da filosofia.
A fenomenologia faz uso de uma série de instrumentos metodológicos próprios que possibilitam a análise criteriosa dos fenômenos. Um deles é a redução, dividida nas seguintes modalidades: a epoché, a redução eidética e a redução trancendental. O termo epoché vem do grego e significa estado de dúvida. Consiste na suspensão do juízo a respeito de qualquer opinião; com o propósito de buscar unicamente os fatos, "pomos fora de ação a tese geral própria da atitude natural e pomos entre parênteses tudo o que ela compreende". Para ilustrar o método referido, tomemos o exemplo de como uma cor é percebida: a experiência pessoal da cor é o fenômeno puro, que se atinge mantendo-se em suspensão os dados científicos a respeito da composição da cor e os dados advindos da comparação com outras cores.
A partir da leitura de Marilena Chauí, observa-se que a atitude natural, segundo Russerl, compreende a aceitação do mundo em que vivemos, formado de coisas, bens, valores, ideais, pessoas, conforme ele nos é dado.A fenomenologia pretende se desvencilhar dassa atitude natural, por meio de um questionamento radical sobre o modo de existência do mundo, que consistiria no ponto inicial da pesquisa filosófica. A redução eidética analisa a apresentação do objeto a nossa á nossa (representação) de forma pura, prescindindo da existência do sujeito que conhece, assim como do objeto conhecido. Trata-se da forma do objeto no espírito, ou seja, trata- se de analisar a representação sem levar em conta o âmbito psicológico.Tomando como exemplo uma planta, podemos afirmar que, levando a cabo tal redução, os seus componentes básicos seriam a cor, as formas que a compõe e a textura.
Na redução transcendental, o fenomenologista considera apenas o que foi imediatamente apresentado á consciência; todos os outros elementos, Husserl sugere que sejam excluídos do julgamento.Retomando o exemplo da cor : uma página impressa em verde é apenas verde, não é feita da mistura de amarelo e azul, que é um dado cientifico. O interessante de Husserl está na cor como fenômeno pessoal e subjetivo, que depende de fatores complexos, como as diferenças de concepção dos sentidos.
O que é mais relevante para os defensores da fenomenologia é aquilo que pode ser experimentado pelos sentidos. Depois de realizada a redução, o que resiste é o individuo efetivamente sabe e passa a conhecer, transcendendo os dados científicos: é o que se designa resíduo fenomenológico.
Vê-se, portanto, que Husserl contribui para a filosofia com a formulação rigorosa e estruturada de um método fenomenológico, que propõe estudar o objeto do conhecimento de forma livre e pura, para alcançar a sua essência. Em outras palavras, a fenomenologia procura tratar do que é dado imediatamente como conteúdo conhecido, sem abordar as possíveis implicações e desdobramentos, que pertencem a uma construção posterior do saber. Assim, no processo de conhecimento, ou seja, na relação que se estabelece entre o sujeito e o objeto, Husserl distingue os seguintes elementos fundamentais : a noésys ("forma"), a h ‘yle ("matéria") e o nóema ("conceito"). A noésys consiste no pensamento considerado um evento psíquico individual; é o conteúdo subjetivo do pensamento que confere sentido ao objetivo conhecido.A h’ yle trata do dado sensível, do contato físico com o objeto, que em si mesmo não comporta nenhum significado, a não ser quando alcançado pela noésys.Por fim, temos o nóema ,totalmente distinto do objeto físico.
É com isso que Husserl faz uma distinção entre o pensamento como um evento psíquico individual ( noese,ou faculdade do pensar ou inteligência ) e o pensamento como conteúdo ( noema, ou pensamento, intenção).Na operação 2 + 2 = 4 existe uma atividade de natureza psíquica, ao mesmo tempo que há um conteúdo pensado, que se expressa no conteúdo de sentido ideal independentemente do sujeito pensante.Esse segundo sentido revela que a estrutura da consciência é intencional e conduz o sujeito na direção do objeto pensado.
O filosofo distinguiu a essência, entendida como a parcela ideal de significação do objeto, dos aspectos que constituem a nossa experiência, ou seja, do que designou como conteúdo objetivo do pensamento.Portanto, no seu método de análise do fenômeno, a essência é a sua dimensão mais relevante.
Segundo Husserl, existe uma intuição da essência, que é o ato ideador , uma espécie de apreensão imediata da essência juntamente com o fenômeno ; desse modo, conheceríamos o fato e sua essência, simultaneamente. O conhecimento ocorreria por semelhanças, que é própria da essência e não da existência; para Husserl, pensar é, antes de tudo pensar na essência. O passo seguinte a redução é a análise cognitiva, que consiste na comparação detalhada entre fenômeno, tal como é apresentado á consciência, é a universal do fenômeno. A fenomenologia busca conciliar aquilo que experimentamos com aquilo que supomos saber teoricamente. Há aqui implícita uma diferenciação entre o fenômeno experimentado e o fenômeno apreendido, que Husserl compara com a relação entre a aparência e aquilo que aparenta. Recorrendo mais uma vez ao exemplo da cor com o reconhecimento científico que temos sobre ela.
De acordo com Husserl, através da redução, cada sujeito pode tornar-se observador de si mesmo, consciente de si.Assim adquirimos conhecimento e podemos aprender sobre nós mesmos e sobre a nossa volta.Pressupomos a existência de outras pessoas com a mesma capacidade para conhecer, mas é impossível provar que, de fato, elas estejam conscientes de si.Não observamos os pensamentos alheios, vemos apenas as ações do comportamento dos outros.É o que denominamos observação da "coisa" enquanto fenômeno.
Assim, da mesma maneira que aprendemos sobre o mundo observando fenômenos externos, aprendemos sobre nós mesmos por meio dos outros. A única forma de observarmos os resultados de nossas emoções e pensamentos é através das respostas das outras pessoas. É a vida no mundo, que Husserl denominou Lebenweslt, e que nos permite ver e experimentar sem as limitações impostas pelas fórmulas e equações do conhecimento científico. Uma coisa é saber que a água é formada por átomos de oxigênio e de hidrogênio, outra bem diferente é ver, sentir, sorver a água. A análise cognitiva nos permite conciliar o conhecimento científico e a observação ; entretanto, só realizamos essa análise quando nos é solicitado, não se trata de um processo involuntário.
O filósofo alemão Martin Heidegger (1889-1976) utilizou a fenomenologia em sua maior obra, Ser e Tempo (1927), para estudar a essência do ser, a temporalidade e o sujeito sempre em um contexto.
Os filósofos franceses Jean-Paul Sartre e Maurice Merleau-Ponty (1908-1961) usaram o método para o estudo das estruturas da percepção, da consciência e da imaginação.
Para Marilena Chauí, o filosofo privilegia a consciência reflexiva ou o sujeito do conhecimento, isto é, afirma que as essências descritas pela Filosofia são produzidas ou constituídas pela consciência, enquanto um poder para dar significação à realidade.

FONTE:
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2002.
CRITELLI, D. M. Analítica do sentido: uma aproximação e interpretação do real de orientação fenomenológica. São Paulo: EDUC Brasiliense, 1996.
GILES, Thomas Ranson. História do Existencialismo e da Fenomenologia. São Paulo: EPU, 1989.
HUSSERL, Edmund. Investigações lógicas – sexta investigação – elemntos de uma elucidação fenomenológica do conhecimento. São Paulo: Abril, 1980.
_____. A Ideia da Fenomenologia. Lisboa: Edições 70, 1986.
Lyotard, J.-F.. A fenomenologia. Lisboa: Edições 70, 1986.
MARTINS, Joel e DICHTCHEKENIAN, Maria Fernanda S.F. Beirão. (Orgs.) Temas Fundamentais de Fenomenologia. São Paulo: Moares, 1984.
MERLEAU-PONTY, M.. Ciências do homem e fenomenologia. São Paulo: Saraiva, 1973.
SALANSKIS, Jean-Michel. Husserl. São Paulo: Estação Liberdade, 2006.

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