sábado, 28 de março de 2009


.

Sinto como imagino que o sol se sente,

o sol buscando os seus atalhos

no interior das horas naturais, nos equilíbrios sem eixo,

sobre as sequências de imagens, errando nas biografias

sem molduras, sobre as silhuetas dos carros,

sem a fadiga de um pequeno abraço ou a mudez

premeditada de um delírio convalescente,

o sol explorando o infinito da superfície vagarosa,

contornando a água de uma lágrima, impalpável

e deslumbrante, silenciosamente no caminho dos versos.

O sol que na aurora apunhala a noite,

O sol que não permite que os céus se colem,

O sol que movimenta as transparências dos homens e mulheres,

O sol que apaga a nitidez dos detalhes inúteis,

O sol que dá corda aos pássaros e aos ruídos,

O sol poético, o sol insone, o sol-ignição de todas as cores,

O sol eterno, o sol-víbora, o sol que te estranha,

O sol que te ama,

O sol, o sol, o sol...



Mas é claro que o sol vai voltar amanhã
Mais uma vez eu sei
Escuridão já vi pior de endoidecer gente sã
Espera que o sol já vem.

Tem gente que está do mesmo lado que você
Mas deveria estar do lado de lá
Tem gente que machuca os outros
Tem gente que não sabe amar
Tem gente enganando a gente
Veja a nossa vida como está
Mas eu sei que um dia a gente aprende
Se você quiser alguém em quem confiar
Confie em si mesmo
Quem acredita sempre alcança!

Mas é claro que o sol vai voltar amanhã
Mais uma vez eu sei
Escuridão já vi pior de endoidecer gente sã
Espera que o sol já vem.

Nunca deixe que lhe digam que não vale a pena
Acreditar no sonho que se tem
Ou que seus planos nunca vão dar certo
Ou que você nunca vai ser alguém
Tem gente que machuca os outros
Tem gente que não sabe amar
Mas eu sei que um dia a gente aprende
Se você quiser alguém em quem confiar
Confie em si mesmo
Quem acredita sempre alcança!

Quem acredita sempre alcança!
Quem acredita sempre alcança!
Quem acredita sempre alcança!
Quem acredita sempre alcança!
Quem acredita sempre alcança!
Quem acredita sempre alcança!

Srs_

Fala do Homem Nascido...

Venho da terra assombrada,
Do ventre de minha mãe;
Nao pretendo roubar nada,
Nem fazer mal a ninguém.

Só quero o que me é devido
Por me trazerem aqui
que eu nem sequer fui ouvido
no acto de que nasci.

Trago boca para comer
E olhos para desejar.
Com licença, quero passar,
Tenho pressa de viver.
Com licença! Com licença!
Que a vida é água a correr.
Venho do fundo do tempo
Não tenho tempo a perder.

Minha barca aparelhada
Solta o pano rumo ao norte;
Meu desejo é passaporte
Para a fronteira fechada.
Não há ventos que não prestem
nem marés que não convenham,
nem forças que me molestem,
correntes que me detenham.

Quero eu e a Natureza,
que a Natureza sou eu
e as forças da Natureza
nunca ninguém as venceu.

Com licença! Com licença!
Que a barca se fez ao mar.
Não há poder que me vença.
Mesmo morto hei-de passar.
Com licença! Com licença!
Com rumo à estrela polar.

António Gedeão


Seres Humanos

Sua violência é desmedida
Sua tristeza é preservada
A sua furia mata vidas
Que não é nada venerada

Sua ignorância de milênios
Nos sufoca até nosso descanso
Seus são atos mediocres e pequenos
Nos deixam nem tanto...

...Revoltados, seres humanos
Seres humanos

É fácil matar um indefeso
Você pode até me dizer
Que está tudo aos avesos
Mas o que você fez?
O que você vai fazer?

Como deixamos tudo isso acontecer..

Seu ódio não tem motivo
Suas vidas são sempre iguais
Matam um ser vivo
Por pensar que são mais

Sua estupidez me enoja
Eu tenho pavor a esse ser
Temos que derrubar toda essa corja
Mas o que você vai fazer?

...Revoltados, seres huamanos
Seres humanos

Sua ignorância de milênios
Nos sufoca até nosso descanso
Seus são atos mediocres e pequenos
Nos deixam nem tanto...

Greco.









Imagem: Heraclitus, de Johannes Moreelse.

HERÁCLITO DE EFESO – Heráclito nasceu em Efeso, cidade da Jônia, de família que ainda conservava prerrogativas reais descendentes do fundador da cidade. Seu caráter altivo, misantrópico, e melancólico ficou proverbial em toda a antiguidade. Desprezava a plebe. Recusou-se sempre a intervir na política. Manifestou desprezo pelos antigo poetas, contra os filósofos de seu tempo e até contra a religião. Sem ter tudo mestre, ele escreveu um livro em prosa, no dialeto jônico, mas de forma tão concisa que recebeu o cognome de Skoteinós, o Obscuro. É por muitos considerado o mais eminente pensador pré-socratico por formular com vigor o problema da unidade permanente do ser diante da pluralidade e mutabilidade das coisas particulares e transitórias. Estabeleceu a existência de uma lei universal e fixa (o Lógos), regedora de todos os acontecimentos particulares e fundamento da harmonia universal, garmonia feita de tensões como a do arco e da lira.
Com Heráclito de Êfeso,a filosofia pré-socratica afirma-se na Ásia Menor. Heraclito, de raça jônica e de estirpe real, solitário desdenhoso e desprezador da azafama vulgar, mais moço do que Pitágoras, viveu entre o VI e V século, e expôs o seu sistema numa obra filosófica intitulada “Da natureza”, que existe apenas fragmentos algo extensos. A doutrina dele pode-se resumir nos princípios seguintes: 1º a essência, o elemento primordial, é o vir-a-ser, tudo se acha em perpetuo fluxo, a realidade está sujeita a um vir-a-ser continuo. O único principio estável da realidade é a lei universal do próprio devir, que Heraclito concretiza no fogo (racional) visto ser o elemento da realidade material mais adequado a representar o vir-a-ser. Unicamente a razão, que tem por objeto o universal, colhe esta lei do devir universal. 2º o vir-a-ser é antítese, luta, revezar-se de vida e de morte: a luta é regra do mundo e a guerra é a geradora e dominadora de todas as coisas. 3º este vir-a-ser e esta oposição são reconduzidos à estabilidade e à unidade pela harmonia, pela sabedoria universal, que determinam o acordo entre as oposições. A unidade do real está na lei dialética, racional, do vir-a-ser; a causa da diferenciação das coisas está no devir.
“Este mundo, que é o mesmo para todos, nenhum dos deuses ou dos homens o fez; mas foi sempre, é e será um fogo eternamente vivo, que se acende com medida e se apaga com medida” – nessa frase muitos vêem uma das chaves para a decifração do pensamento de Heráclito. A apresentaçãoa forismática de seu pensamento e o estilo intencionalmente sibilino fazem dele um dos pensadora de mais difícil interpretação. Natural, portanto, que a história da filosofia apresente uma sucessão de verdades de seu pensamento dependentes sempre da perspectiva assumida pelo próprio interprete. Para a solução do problema heraclitiano dois pontos parecem oferecer as bases mais seguras. A primeira, o confronto das proposições dele com seu contexto cultural, o que o próprio filosofo parece indicar, na medida em que se apresenta como critico implacável de idéias e personagens de sua época ou da tradição cultural grega. A segunda, o estilo dele a revelar um uso peculiar da linguagem. Se há aforismos dele que não manifestam obscuridade são justamente os de cunho critico. Aristocrata, ele não afirma apenas que um só é dez mil para mim, se é melhor, como também faz acerbas acusações à mentalidade vulgar desses homens que não sabem o que fazem quando estão despertos, do mesmo modo que esquecem o que fazem durante o sono. A religiosidade popular é também vergastada: “Os mistérios praticados entre os homens são mistérios profanos”. E explica: “É em vão que eles se purificam sujando-se de sangue, como um homem que tivesse andado na lama e quisesse lavar os pés na lama”. Mas nem alguns dos nomes mais referenciados na época são poupados: “O fato de aprender muitas coisas não instrui a inteligência; do contrário teria instruído Hesiodo e Pitagoras, do mesmo modo que Xenofanes e Hecateu”. Noutro aforismo Pitágoras é acusado de possuir uma polimatia, conhecimento de muitas coisas que não passava de uma arte de maldade, enquanto Hesiodo, o mestre da maioria dos homens, os homens pensam que ele sabia muitas coisas, ele que não conhecia o dia ou a noite. Nem Homero escapa: “Homero errou em dizer? Possa a discórdia de extinguir entre os deuses e os homens”. Ele não via que suplicava pela destruição d universo; porque, se sua prece fosse atendida, todas as coisas pereceriam”. Em meio a tantas criticas, Heraclito abre, entretanto, uma exceção: para a Sibila, que com seus lábios delirantes diz coisas sem alegria, sem ornatos e sem perfume, mas que atinge com sua voz para além de mil anos, graças ao deus que está nela. Percebe-se, dessa maneira, que a adoção do estilo oracular é intencional nele, que encontra a via adequada – indireta, sugestiva – para comunicar seu pensamento: “O mestre a que pertence o oráculo de Delfos não exprime nem oculta seu pensamento, mas o faz ver através de um sinal”. O exemplo do deus de Delfos e da Sibila parece mostrar a ele a diferença que separa as palavras do pensamento (logos), a mesma que distancia a inteligência privada – o sono em que está imersa a mentalidade vulgar – da inteligência comum, a vigília daquele que se eleva acima dos muitos conhecimentos e reconhece que todas as coisas são um.
O que diz o Logos, do qual Heráclito se faz enunciador e em nome do qual condena o torpor da multidão ou a polimatia dos supostos sábios, é isto: a unidade fundamental de todas as coisas. Essa é a natureza que gosta de se ocultar. Mas a noção de unidade fundamental, subjacente à multiplicidade aparente, já estava expressa pelo menos desde Anaximandro de Mileto. A Heraclito – e que lhe permite julgar tão duramente seus antecessores e contemporâneos – está, na verdade, em considerar aquela unidade de tensões opostas. Esta teria sido, sua grande descoberta: existe uma harmonia oculta das forças opostas, como a do arco e a da lira. A razão (logos) consistiria precisamente na unidade profunda que as oposições aparentes ocultam e sugerem: Os contrários, em todos os níveis da realidade, seriam aspectos inerentes a essa unidade. Não se trata, pois, de que o Um ao Multiplo, como Xenofanes e o eleatismo: o Um penetra o Multiplo e a multiplicidade é apenas uma forma da unidade, ou melhor, a própria unidade. Daí a insuficiência do uso corrente das palavras: somente o logos (razão-discurso) do filosofo consegue apreender e formular – não ao ouvido mas ao espírito, não diretamente mas por via de sugestões sibilinas – aquela simultaneidade do múltiplo (mostrado pelos sentidos) e da unidade fundamental descortinada pela inteligência desperta em vigília. Proclama Heráclito: “É sábio escutar não a mim, mas a meu discurso (logos), e confessar que todas as coisas são Um”. O Logos seria a unidade nas mudanças e nas tensões, a reger todos os planos da realidade: o fisico, o biológico, o psicológico, o político, o moral. É a unidade nas transformações: “Deus é dia-noite, inverno-verão, guerra-paz, superabundância-fome; mas ele assume formas variadas, do mesmo modo que o fogo, quando misturado a aromatas, é denominado segundo os perfumes de cada um deles. Por isso Homero errara em pedir que cessasse a discórdia entre os deus e os homens: “O que varia está de acordo comigo mesmo”. A harmonia não é aquela que Pitágoras propunha, de supremacia do Um, nem a verdadeira justiça é a que Anaximandro havia concebido, ou seja, a extinção dos confins e das tensões através da compensação dos excessos de cada qualidade-substancia em relação a seu oposto. A justiça não significa apaziguamento. Pelo contrário: “O conflito é o pai de todas as coisas: de alguns faz homens; de alguns, escravos; de alguns, homens livres. Mas ver a realidade como fundamentalmente uma tensão de opostos não significa necessariamente optar pela guerra, no plano político; guerra, neste ultimo sentido, é apenas um dos pólos de uma tensão permanente. E essa tensão, que constitui a verdadeira harmonia, necessita, para perdurar, de ambos os opostos. Numa serie de aforismos, Heraclito enfatiza o caráter mutável da realidade, repetindo uma tese que já surgira nos mitos arcaicos e, com dimensão filosófica, desde os milesianos. Mas nele a noção de fluxo universal torna-se um mote insistenetemente glosado: “Tu não podes descer duas vezes no mesmo rio, porque novas águas correm sempre sobre ti”. O imperio do Logos em sua feição física aparece então como as transformações do fogo, que são em primeiro lugar, mar; e a metade do mar e terra e a outra metade vento turbilhonante. O logos-fogo exerce uma função de racionalização nas trocas substanciais análoga à que a moeda vinha desempenhando na Grecia desde o séc. VII: “Todas as coisas são trocadas em fogo e o fogo se troca em todas as coisas, como as mercadorias se trocam por ouro e o ouro é trocado por mercadorias”. Todavia, as transformações que integram o fluxo universal não significam desgoverno e desordem; pelo contrário, o Logos-Fogo é também Razão universal e, por isso, impôs medidas ao fluxo: “Este mundo (...) foi sempre, é e será sempre um fogo eternamente vivo, que se acende com medida e se apaga com medida”. A regularidade e a medida são garantidas pela simultaneidade dos dois caminhos de transformação que compõem o fluxo universal: é ao mesmo tempo que ocorre a troca do fogo em todas as coisas, de todas as coisas em fogo, pois “o caminho para o alto e o caminho para baixo são um mesmo”. Isso permite então afirmar: “(...) e a metade do mar é terra, a metade vento turbilhonante”. Assim, o que garante a tensão intrínseca às coisas é aquilo mesmo que as sustenta: a medida imposta pelo Logos, essa harmonia oculta que vale mais que harmonia aberta. A consciência da fugacidade das coisas gera uma nota de pessimismo que atravessa o pensamento de Heráclito: “O homem é acendido e apagado como uma luz no meio da noite!. Mas o pessimismo advem, sobretudo, de reconhecer o torpor em que vive a maioria dos homens, ignorantes da lei universal que tudo rege. Por isso o discurso (logos) do filosofo, embora pretendendo ser a manifestação da razão universal (logos), exprime-se como um solitario mono-logos acima dos homens comuns, “esses loucos que quando ouvem são como surdos”.

FONTES:
ARANHA, Maria Lucia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução à Filosofia. São Paulo: Moderna, 1994.
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Atica, 2002.
MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
PADOVANI, Umberto; CASTAGNOLA, Luis. Historia da Filosofia. São Paulo: Melhoramentos, 1978.
PESSANHA, José Américo Motta (Org). Os pré-socraticos. São Paulo: Abril, 1978.
SOUZA, José Cavalcante. Os pré-socrático. São Paulo: Abril, 1978.

DEBATE: HUSSERL & A FENOMENOLOGIA



HUSSERL & A FENOMENOLOGIA

Luiz Alberto Machado

O filósofo e matemático alemão Edmundo Husserl ( Gustav Albrecht Edmund Husserl - 1859-1938) foi o fundador da fenomenologia. Ele estudou nas universidades de Leipzig, de Berlim e de Viena, iniciando a carreira de professor em 1883, abandonando o posteriormente e se dedicando a escrever seus ensaios. Quando ele morreu em 1938, em Freiburg, deixou uma vasta gama de ensaios que foram posteriormente reunidos como Arquivos Husserl.
Em sua obra Investigações Lógicas (1900-1901) foi onde ele definiu sua filosofia como a análise da experiência que está por trás de todo o pensamento formal. É nela onde aparecem os primeiros sinais do método fenomenológico que se envolveu com as questões clássicas da filosofia desde Descartes, quando Husserl travou uma discussão da obra do filósofo francês: Meditações Cartesianas. A partir disso, a fenomenologia passa a servir de fonte para vários filósofos, em especial aos ligados ao existencialismo, chegando-se, inclusive, a se falar de uma sociologia, uma psicologia e uma teoria literária fenomenológicas. Isto porque o método voltou-se principalmente para as artes, nas quais proporciona um novo modo de consideração das obras artísticas. Depois, lança as bases sólidas da teoria da fenomenologia.
A partir de uma revisão na literatura, há que se entender, antes porem, que a Fenomenologia é uma corrente iniciada por Husserl ao pretender o estabelecimento de um método de fundamentação da filosofia e da ciência, baseada no conceito de fenômeno, ou seja, aquilo que é percebido pela consciência, no sentido de proceder a investigação da vida perceptiva, defendendo que a percepção tona possível a consciência dos objetos do mundo, como o juízo, a memória e os atos subjetivos. Estes, segundo ele, podem ser submetidos ao exame pela faculdade superior da consciência, entendia pelo autor como o eu transcendental, que é responsável pela síntese que torna possível a apreensão de objetos.
Muitas transformações ocorreram no pensamento fenomenológico até chegar em reorganizações conceituais que redundaram na formulação programática feita por Husserl no começo do século XX, quando a fenomenologia tornou-se mundialmente bem–aceita e tem influenciado discussões teóricas até hoje; ela introduziu uma forma prática no domínio teórico da filosofia, assim como no campo das ciências humanas e naturais.
A partir das investigações lógicas de Husserl ficou estabelecido por ele que a investigação deve ater-se ao modo como as coisas aparecem ao homem, como ele unifica a multiplicidade de aparições e como projeta significações sobre os objetos percebidos.
Para o fenomenólogo, não existe a consciência pura, mas sempre a "consciência de alguma coisa". Esse conceito, fundamental para a fenomenologia, é chamado de intencionalidade. Além disso, a atenção dispensada ao olhar, à percepção, à imaginação, às coisas e ao outro faz o método fenomenológico ir além das fronteiras da filosofia.
A fenomenologia faz uso de uma série de instrumentos metodológicos próprios que possibilitam a análise criteriosa dos fenômenos. Um deles é a redução, dividida nas seguintes modalidades: a epoché, a redução eidética e a redução trancendental. O termo epoché vem do grego e significa estado de dúvida. Consiste na suspensão do juízo a respeito de qualquer opinião; com o propósito de buscar unicamente os fatos, "pomos fora de ação a tese geral própria da atitude natural e pomos entre parênteses tudo o que ela compreende". Para ilustrar o método referido, tomemos o exemplo de como uma cor é percebida: a experiência pessoal da cor é o fenômeno puro, que se atinge mantendo-se em suspensão os dados científicos a respeito da composição da cor e os dados advindos da comparação com outras cores.
A partir da leitura de Marilena Chauí, observa-se que a atitude natural, segundo Russerl, compreende a aceitação do mundo em que vivemos, formado de coisas, bens, valores, ideais, pessoas, conforme ele nos é dado.A fenomenologia pretende se desvencilhar dassa atitude natural, por meio de um questionamento radical sobre o modo de existência do mundo, que consistiria no ponto inicial da pesquisa filosófica. A redução eidética analisa a apresentação do objeto a nossa á nossa (representação) de forma pura, prescindindo da existência do sujeito que conhece, assim como do objeto conhecido. Trata-se da forma do objeto no espírito, ou seja, trata- se de analisar a representação sem levar em conta o âmbito psicológico.Tomando como exemplo uma planta, podemos afirmar que, levando a cabo tal redução, os seus componentes básicos seriam a cor, as formas que a compõe e a textura.
Na redução transcendental, o fenomenologista considera apenas o que foi imediatamente apresentado á consciência; todos os outros elementos, Husserl sugere que sejam excluídos do julgamento.Retomando o exemplo da cor : uma página impressa em verde é apenas verde, não é feita da mistura de amarelo e azul, que é um dado cientifico. O interessante de Husserl está na cor como fenômeno pessoal e subjetivo, que depende de fatores complexos, como as diferenças de concepção dos sentidos.
O que é mais relevante para os defensores da fenomenologia é aquilo que pode ser experimentado pelos sentidos. Depois de realizada a redução, o que resiste é o individuo efetivamente sabe e passa a conhecer, transcendendo os dados científicos: é o que se designa resíduo fenomenológico.
Vê-se, portanto, que Husserl contribui para a filosofia com a formulação rigorosa e estruturada de um método fenomenológico, que propõe estudar o objeto do conhecimento de forma livre e pura, para alcançar a sua essência. Em outras palavras, a fenomenologia procura tratar do que é dado imediatamente como conteúdo conhecido, sem abordar as possíveis implicações e desdobramentos, que pertencem a uma construção posterior do saber. Assim, no processo de conhecimento, ou seja, na relação que se estabelece entre o sujeito e o objeto, Husserl distingue os seguintes elementos fundamentais : a noésys ("forma"), a h ‘yle ("matéria") e o nóema ("conceito"). A noésys consiste no pensamento considerado um evento psíquico individual; é o conteúdo subjetivo do pensamento que confere sentido ao objetivo conhecido.A h’ yle trata do dado sensível, do contato físico com o objeto, que em si mesmo não comporta nenhum significado, a não ser quando alcançado pela noésys.Por fim, temos o nóema ,totalmente distinto do objeto físico.
É com isso que Husserl faz uma distinção entre o pensamento como um evento psíquico individual ( noese,ou faculdade do pensar ou inteligência ) e o pensamento como conteúdo ( noema, ou pensamento, intenção).Na operação 2 + 2 = 4 existe uma atividade de natureza psíquica, ao mesmo tempo que há um conteúdo pensado, que se expressa no conteúdo de sentido ideal independentemente do sujeito pensante.Esse segundo sentido revela que a estrutura da consciência é intencional e conduz o sujeito na direção do objeto pensado.
O filosofo distinguiu a essência, entendida como a parcela ideal de significação do objeto, dos aspectos que constituem a nossa experiência, ou seja, do que designou como conteúdo objetivo do pensamento.Portanto, no seu método de análise do fenômeno, a essência é a sua dimensão mais relevante.
Segundo Husserl, existe uma intuição da essência, que é o ato ideador , uma espécie de apreensão imediata da essência juntamente com o fenômeno ; desse modo, conheceríamos o fato e sua essência, simultaneamente. O conhecimento ocorreria por semelhanças, que é própria da essência e não da existência; para Husserl, pensar é, antes de tudo pensar na essência. O passo seguinte a redução é a análise cognitiva, que consiste na comparação detalhada entre fenômeno, tal como é apresentado á consciência, é a universal do fenômeno. A fenomenologia busca conciliar aquilo que experimentamos com aquilo que supomos saber teoricamente. Há aqui implícita uma diferenciação entre o fenômeno experimentado e o fenômeno apreendido, que Husserl compara com a relação entre a aparência e aquilo que aparenta. Recorrendo mais uma vez ao exemplo da cor com o reconhecimento científico que temos sobre ela.
De acordo com Husserl, através da redução, cada sujeito pode tornar-se observador de si mesmo, consciente de si.Assim adquirimos conhecimento e podemos aprender sobre nós mesmos e sobre a nossa volta.Pressupomos a existência de outras pessoas com a mesma capacidade para conhecer, mas é impossível provar que, de fato, elas estejam conscientes de si.Não observamos os pensamentos alheios, vemos apenas as ações do comportamento dos outros.É o que denominamos observação da "coisa" enquanto fenômeno.
Assim, da mesma maneira que aprendemos sobre o mundo observando fenômenos externos, aprendemos sobre nós mesmos por meio dos outros. A única forma de observarmos os resultados de nossas emoções e pensamentos é através das respostas das outras pessoas. É a vida no mundo, que Husserl denominou Lebenweslt, e que nos permite ver e experimentar sem as limitações impostas pelas fórmulas e equações do conhecimento científico. Uma coisa é saber que a água é formada por átomos de oxigênio e de hidrogênio, outra bem diferente é ver, sentir, sorver a água. A análise cognitiva nos permite conciliar o conhecimento científico e a observação ; entretanto, só realizamos essa análise quando nos é solicitado, não se trata de um processo involuntário.
O filósofo alemão Martin Heidegger (1889-1976) utilizou a fenomenologia em sua maior obra, Ser e Tempo (1927), para estudar a essência do ser, a temporalidade e o sujeito sempre em um contexto.
Os filósofos franceses Jean-Paul Sartre e Maurice Merleau-Ponty (1908-1961) usaram o método para o estudo das estruturas da percepção, da consciência e da imaginação.
Para Marilena Chauí, o filosofo privilegia a consciência reflexiva ou o sujeito do conhecimento, isto é, afirma que as essências descritas pela Filosofia são produzidas ou constituídas pela consciência, enquanto um poder para dar significação à realidade.

FONTE:
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2002.
CRITELLI, D. M. Analítica do sentido: uma aproximação e interpretação do real de orientação fenomenológica. São Paulo: EDUC Brasiliense, 1996.
GILES, Thomas Ranson. História do Existencialismo e da Fenomenologia. São Paulo: EPU, 1989.
HUSSERL, Edmund. Investigações lógicas – sexta investigação – elemntos de uma elucidação fenomenológica do conhecimento. São Paulo: Abril, 1980.
_____. A Ideia da Fenomenologia. Lisboa: Edições 70, 1986.
Lyotard, J.-F.. A fenomenologia. Lisboa: Edições 70, 1986.
MARTINS, Joel e DICHTCHEKENIAN, Maria Fernanda S.F. Beirão. (Orgs.) Temas Fundamentais de Fenomenologia. São Paulo: Moares, 1984.
MERLEAU-PONTY, M.. Ciências do homem e fenomenologia. São Paulo: Saraiva, 1973.
SALANSKIS, Jean-Michel. Husserl. São Paulo: Estação Liberdade, 2006.

Seres Humanos.


Venho da terra assombrada,
Do ventre de minha mãe;
Nao pretendo roubar nada,
Nem fazer mal a ninguém.

Só quero o que me é devido
Por me trazerem aqui
que eu nem sequer fui ouvido
no acto de que nasci.

Trago boca para comer
E olhos para desejar.
Com licença, quero passar,
Tenho pressa de viver.
Com licença! Com licença!
Que a vida é água a correr.
Venho do fundo do tempo
Não tenho tempo a perder.

Minha barca aparelhada
Solta o pano rumo ao norte;
Meu desejo é passaporte
Para a fronteira fechada.
Não há ventos que não prestem
nem marés que não convenham,
nem forças que me molestem,
correntes que me detenham.

Quero eu e a Natureza,
que a Natureza sou eu
e as forças da Natureza
nunca ninguém as venceu.

Com licença! Com licença!
Que a barca se fez ao mar.
Não há poder que me vença.
Mesmo morto hei-de passar.
Com licença! Com licença!
Com rumo à estrela polar.


António Gedeão


Seres Humanos

Sua violência é desmedida
Sua tristeza é preservada
A sua furia mata vidas
Que não é nada venerada

Sua ignorância de milênios
Nos sufoca até nosso descanso
Seus são atos mediocres e pequenos
Nos deixam nem tanto...

...Revoltados, seres humanos
Seres humanos

É fácil matar um indefeso
Você pode até me dizer
Que está tudo aos avesos
Mas o que você fez?
O que você vai fazer?

Como deixamos tudo isso acontecer..

Seu ódio não tem motivo
Suas vidas são sempre iguais
Matam um ser vivo
Por pensar que são mais

Sua estupidez me enoja
Eu tenho pavor a esse ser
Temos que derrubar toda essa corja
Mas o que você vai fazer?

...Revoltados, seres huamanos
Seres humanos

Sua ignorância de milênios
Nos sufoca até nosso descanso
Seus são atos mediocres e pequenos
Nos deixam nem tanto...

Os seres humanos podem ter passado raspando pela extinção há cerca de 70 mil anos, mostra um extenso estudo genético. O total de seres humanos primitivos caiu a 2 mil antes que os números começassem a crescer no início da Idade da Pedra, afirma uma análise divulgada nesta quinta-feira, 24.
"Este estudo revela o poder extraordinário da genética para revelar vislumbres de alguns eventos fundamentais de nossa espécie. Pequenos bandos de humanos primitivos, forçados a se separar por conta das condições ambientais adversas, voltam da beira da extinção para reunirem-se e povoar o mundo. Um drama épico, escrito no nosso DNA", diz nota divulgada por Spencer Wells, explorador-residente da National Geographic Society. Wells é diretor do Projeto Genográfico, lançado em 2005 para usar a genética como instrumento no estudo da antropologia. O trabalho está publicado no periódico American Journal of Human Genetics.

Base
Estudos anteriores, usando DNA mitocondrial - que é passado exclusivamente pela mãe - haviam rastreado a humanidade atual a uma única "Eva mitocondrial", que viveu na África há 200 mil anos.
As migrações que levaram populações humanas da África para o resto do mundo começaram há cerca de 60 mil anos, mas pouco se sabe da humanidade entre Eva e a diáspora.

Estudo recente
O mais recente trabalho analisa o DNA mitocondrial dos povos Khoi e San da África do Sul, que parece ter divergido do de outros povos entre 90 mil e 150 mil anos atrás. Os pesquisadores concluíram que a humanidade separou-se em pequenas populações antes da Idade da Pedra, quando se reuniram e começaram a se espalhar pelo mundo. A África Oriental passou por uma série de secas entre 135 mil e 90 mil anos atrás, e os pesquisadores acreditam que essa mudança pode ter contribuído para as transformações na população, dividindo-a em grupos pequenos que se desenvolveram de modo isolado.
Hoje, a espécie humana tem 6,6 bilhões de pessoas.



São Tomé e Príncipe se tornou um modelo de como roubar uma nação africana
Os moradores de uma minúscula ilha-Estado africana sonham com grande riqueza desde que petróleo foi descoberto em suas águas territoriais. Empresas, potências estrangeiras e políticos corruptos estão disputando licenças de exploração na esperança de obter riqueza


Texto original: Mathieu von Rohr.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Priscila Cembranel...

Inspiração dos meu sonhos...


Pensando

Quando falares, cuida
para que tuas palavras
sejam melhores do
que o silêncio".

"Os mais inesquecíveis
encontros já foram
programados pelas
almas antes mesmo
que os corpos se vejam".

"Os incapazes de atacar
um pensamento
atacam o pensador".

"Se escutar má voz
dentro de você dizendo
"você não é pintor", então
pinte sem parar,
de todos os modos possíveis,
e aquela voz será
silenciada".

"A lei da mente é
implacável...
O que você pensa...
Você cria...
O que você sente...
Você atrai...
O que você acredita...
Torna-se realidade."



*Fossil encontrado na Italia de aproximadamente 10 mil anos e talvez a primeira demonstração de amor do homem moderno.



Quando você dormir
Se não estiver com sono posso fingir
Quando você acordar
Serei o primeiro a te olhar

Quando você cair
Eu irei lhe levantar
Na jornada da vida
Estarei a lhe acompanhar

Quando você chorar
Serei quem enxuga suas lágrimas
Quando você sorrir
Tua alegria quero sentir

Quando você dançar
Quero ser o seu par
E na sua boca
Eternamente beijar

E se quiser
Com você quero casar
E mesmo que partir
Vou eternamente lhe amar...

Observatório Semiótico...





Aquilo que o Pensador pensa, o Demonstrador prova.

Nossa mente tem dois lados: o Pensador e o Demonstrador.

"Aquilo que o Pensador pensa, o Demonstrador prova"!!!

É daí que vem o milagre da fé e tantos outros feitos incríveis da nossa mente. O ser humano tem por natureza a necessidade de encontrar respostas para todas as perguntas, e é nessa necessidade que alguns sábios observadores do comportamento humano especializam-se e propiciam conforto através de respostas cuidadosamente elaboradas. Questionar as causas que levam alguns a encontrar legitimamente ou não respostas para muitas questões sem solução seria lutar contra moinhos de vento: uma luta vazia, sem sentido.

Certamente o interessante é questionarmos as conseqüências e procurarmos compreender como funciona a mente humana e, por extensão, nossa própria mente, para evitarmos sermos usados como massa de manobra por quem quer que seja: religião, políticos, imprensa, amigos, amantes...

A fé tem um lado bom e um mau: o bom é que de fato ela move montanhas, sejam doenças, perdas ou grandes tristezas; o mau é que abre-se espaço para pessoas usarem pessoas, seja por dinheiro ou poder.

Quanto maior nosso controle de nossa própria mente e de nossas idéias, menos vulneráveis ficamos à manipulação de massa que atualmente toma conta de grande parte da humanidade.

Quer fazer um teste?

Verifique se por acaso sua opinião pessoal acerca de algum tema relevante, partido político, personagem político ou acontecimento polêmico não é muito parecida, ou talvez até idêntica à "opinião" da grande mídia, incluindo-se aí os principais telejornais, jornais impressos, revistas e rádios.

Ser "do contra" não caracteriza independência e auto-controle do lado Pensador, mas certamente estar sintonizado com o "pensamento" coletivo pode ser uma característica forte de manipulação... fique atento aos sintomas!!!

Pense....


(Pintura RTC 0064 - No Time on Paradise)

Pressa... Pense...
(Ron T. Cobre)


Calma, relaxe...
Não corra, pense!
O destino não vale
Mais que sua vida.

Não seja impaciente
Está atrasado?
O compromisso
É algo passageiro.

Veja essas pessoas
Por que a pressa?
Elas não vão
A lugar algum.

Diminua a velocidade
Veja você agora
Passivo e tranqüilo
Sem loucura.

Abra caminho
Para os apressados
Deixe-os passar ...

segunda-feira, 23 de março de 2009

Enigma...





sábado, 21 de março de 2009

Progress....








sexta-feira, 20 de março de 2009




Cada escolha é uma renuncia...

terça-feira, 17 de março de 2009

Expressão...

Musa Clio...



Clio, do grego kλεί-εω – "glória" ou "fama".

Foi uma das nove musas da mitologia grega. Com suas oito irmãs habita o monte Hélicon. Chamadas “as cantoras divinas”, filhas de Zeus, Poder e Mnemósine, Memória. Reunindo-se sob a assistência de Apolo, junto à fonte Hipocrene, as musas presidem as artes e as ciências.Tem o dom de inspirar os governantes e restabelecer a paz entre os homens. A essa função é Clio a musa especialmente devotada.
Clio é a musa da História e da Criatividade, aquela que divulgava e celebrava realizações. Ela preside a eloqüência, sendo a fiadora das relações políticas entre homens e nações.É representada (na figura acima) como uma jovem coroada de louros, trazendo na mão direita uma trombeta e, na esquerda, um livro intitulado "Thucydide". Existem outras representações que apresentam-na segurando um rolo de pergaminho e uma pena, atributos que, às vezes, também acompanham Calíope.
Clio é considerada a inventora da guitarra. Em algumas de suas estátuas traz esse instrumento em uma das mãos e, na outra, um plectro (palheta).

Este é um espaço de quem gosta de conversar sobre vários temas: Educação, História, Teologia, Filosofia, Sociologia, Antropologia, Psicologia, enfim, as Ciências da Religião.

O ser na sua finitude e na esperança da infinitude da vida que não se aceita como é mas quer transformar e transformar-se desde aqui e até a eternidade.


segunda-feira, 16 de março de 2009

SINESTESIA

Do grego syn (união, junção) - aisthesis (percepção), Sinestesia é uma condição neurológica na qual o estímulo em um dos sentidos provoca uma percepção automática em outro sentido. Alguns sinestetas “vêem” sons, outros sentem o sabor de palavras ou formas, o cheiro dos objetos que tocam, enxergam imagens ao ingerir certos alimentos, e outras misturas de sensações.

Para muitas ver um morango com chocolate é muito mais do que uma boa experiência gastronômica.

Sinestesia é uma condição neurológica que é como natural, automática e prazerosa. As pessoas não perdem as impressões sensoriais normais, apenas experimentam simultaneamente sensações adicionais a estímulos que os seres não dotados dessa capacidade experimentam isoladamente – uma forma diferente de o cérebro interpretar os sinais. São percepções fisiológicas com respostas químicas cerebrais, são realmente percebidas desta forma e de uma maneira particular a cada caso.


Da mesma forma, quando olha para o céu: pode sentir sono pois é capaz de associar a imagem com própria cama.
Imagine-se olhar um belo por-do-sol com seus tons de alaranjado e vermelho, sentir o sabor de um doce.

No cérebro de um sinestésico as cores têm propriedades que não podemos imaginar, por exemplo, o vermelho pode ser sólido, o amarelo é brilhante, uma barra de chocolate lembra a cor púrpura e tem aroma de azul escuro. Em alguns casos o tato pode ser associado, como uma pancada no canto da mesa que remete à cor marrom ou o laranja da confusão.

sábado, 14 de março de 2009

Filosofia e Ética

Certamente a filosofia deve estar inserida no sistema educacional brasileiro como disciplina que possibilite ao discente uma libertação dos pensamentos utilitaristas e dogmáticos impostos pelo meio social que preza pelo egocentrismo e o materialismo, onde o poder e o dinheiro interferem no modo de agir do ser humano, principalmente no que tange aos valores morais de honestidade e de sinceridade, colocados como preceitos éticos de uma sociedade justa, a partir disso podemos dizer que a cultura brasileira se impregnou de “meios viciantes” para fugir de inúmeras dificuldades normais a um país que se encontra em desenvolvimento social e econômico, assim alguns se utilizam da “esperteza” como forma de sobrevivência, procurando os meios ilícitos para “se dar bem”, dessa maneira o indivíduo se torna mais propenso à corrupção, destruindo os valores de moralidade dentro de alguns membros de nossa sociedade, além do que falta uma punição mais severa para “as maracutaias” e “o jeitinho brasileiro”, que são enormes causadores de injustiças e desigualdades sociais; ainda justificam alguns, dizendo que faz parte da cultura brasileira e não é possível se reverter isso; com certeza o que está faltando é coragem e vontade para mudar esse quadro, porque há na realidade uma cumplicidade e omissão em grande parte de nossa sociedade, talvez para receber miseras “vantagens” que causa-vos enormes transtornos em vossas consciências, pois essa sempre acusa o erro, que certamente deverá ser reparado ou compensado para aliviá-la. Claro que não queremos exigir um puritanismo ou perfeição total em nossa sociedade, pois isso seria pedir demais, o que é necessário que façamos um trabalho de “conscientização social” através das escolas abordando nas disciplinas humanas como a filosofia, que está inserida nessa temática sobre a ética, que é a moral refletida da própria sociedade, dessa maneira o estudo aprofundado em temas filosóficos tem como meta esclarecer e fazer discussões construtivas acerca de assuntos polêmicos ou do cotidiano, para um melhor entendimento, buscando a verdade ou chegando na raiz do problema, sempre respeitando a universalidade de pensamento, pois a filosofia é necessária para o crescimento intelectual e pessoal do aluno, trazendo discernimento quanto a valores e ideais a serem atingidos para sua própria satisfação pessoal, contribuindo para uma conduta positiva na esfera social. Também podemos dizer que tanto na comunicação quanto na educação, a Ética representa um importante tema de estudo, uma vez que na atualidade o grande problema das sociedades é o agir humano.

A competição no mundo do trabalho e nas relações sociais em geral, a violência, a solidão, a genética aplicada, os preconceitos, tanto sociais, raciais, sexuais...requerem uma reflexão orientada pela Ética. Todos nós vivemos, e a cada dia mais fortemente, os efeitos da política mundial que parece desconhecer os princípios fundamentais da Ética. Na simplificação do pensamento de Kant como: “não faça aos outros o que você não gostaria que fizessem a você”.

Assim sendo a inclusão da filosofia em todas as escolas de ensino fundamental e médio se faz necessária em caráter urgentíssimo para formação de uma consciência autônoma, crítica e inovadora prezando os valores éticos e morais no pensamento dos estudantes, isso certamente gerará melhorias na própria educação e visa o desenvolvimento sócio-político-cultural do país, que atualmente está passando por problemas de corrupção no governo, com envolvimento dos dirigentes e funcionários de empresas públicas e privadas e de alguns partidos e seus representantes , colocando em xeque a questão ética no meio social-político; com certeza esse momento deve ser aproveitado para que as instituições de ensino, imprensa e a população em geral façam cobranças para reversão desse quadro negativo e isso talvez só virá através da reformulação da própria educação e o advento do ensino de filosofia no currículo de todas as escolas brasileiras e assim se possibilitará renovação no que tange ao agir humano; pois em nossa sociedade atual os ideais éticos de justiça e igualdade social ficam na maioria das vezes, só na teoria, pois, na prática, nota-se o contrário, onde o interesse pessoal está sempre na frente do interesse coletivo ou social. Já dizia o grande filósofo Aristóteles: “que a tarefa essencial de um Estado (País) é a educação de seus cidadãos que sempre deverá fazer conexão com os preceitos morais de uma sociedade justa”.

Moral, Justiça e Direito na Teoria de Hans Kelsen

Hans Kelsen critica as teorias que procuram a distinção do direito com relação à moral a partir dos critérios interioridade (moral) e exterioridade (direito). Sua crítica repousa sobretudo no fato de que o direito por vezes regula condutas internas e por vezes regula condutas externas, assim como ocorre com a moral. Este critério seria, portanto, insuficiente para dar conta do problema.

Se o direito for entendido e definido exclusivamente a partir das idéias de normatividade e validade, então seu campo nada tem a ver com a Ética. Esta é a proposta de cisão metodológica, que acabou por provocar fissura profunda no entendimento e no raciocínio dos juristas do séc. XX, de Hans Kelsen. Então, pode-se sintetizar sua proposta: as normas jurídicas são estudadas pela Ciência do Direito; as normas morais são objeto de estudo da Ética como ciência. O raciocínio jurídico, então, não deverá versar sobre o que é certo ou errado, sobre o que é virtuoso ou vicioso, sobre o que é bom ou mau, mas sim sobre o lícito e o ilícito, sobre o legal (constitucional) ou ilegal (inconstitucional), sobre o válido e o inválido.

A diferenciação entre os campos da moralidade e da juridicidade, para Kelsen, decorre de uma preocupação excessiva com a autonomia da ciência jurídica. Argumenta Kelsen que, se se está diante de um determinado Direito Positivo, deve-se dizer que este pode ser um direito moral ou imoral. É certo que se prefere o Direito moral ao imoral,[1] porém, há de se reconhecer que ambos são vinculativos da conduta.

Em poucas palavras, um direito positivo sempre pode contrariar algum mandamento de justiça, e nem por isso deixa de ser válido.[2] Então, o direito positivo é o direito posto (positum – posto e positivo) pela autoridade do legislador, dotado de validade, por obedecer a condições formais para tanto, pertencente a um determinado sistema jurídico. O direito não precisa respeitar um mínimo moral para ser definido e aceito como tal, pois a natureza do direito, para ser garantida em sua construção, não requer nada além do valor jurídico.[3] Então, direito e moral se separam.[4] Assim, é válida a ordem jurídica ainda que contrarie os alicerces morais.[5] Validade e justiça de uma norma jurídica são juízos de valor diversos, portanto (uma norma pode ser válida e justa; válida e injusta; inválida e justa; inválida e injusta).

O que de fato ocorre é que Kelsen quer expurgar do interior da teoria jurídica a preocupação com o que é justo e o que é injusto. Mesmo porque, o valor justiça é relativo, e não há concordância entre os teóricos e entre os povos e civilizações de qual o definitivo conceito de justiça. Discutir sobre a justiça, para Kelsen, é tarefa da Ética, ciência que se ocupa de estudar não normas jurídicas, mas sim normas morais, e que, portanto, se incumbe da missão de detectar o certo e o errado, o justo e o injusto. E muitas são as formas com as quais se concebem o justo e o injusto, o que abeira este estudo do terreno das investigações inconclusivas.[6] Enfim, o que é justiça?

Na mesma medida em que para a Ciência do direito é desinteressante deter-se em investigações metodologicamente destinadas a outras ciências ( Antropologia, Sociologia…), a Ética é considerada ciência autônoma sobre a qual não pode intervir a ciência do direito. A diferenciação metodológica seria a justificativa para que não se tomasse o objeto de estudo de outra ciência, formando-se, com isto, barreiras artificiais e intransponíveis entre as mesmas.

A discussão sobre a justiça, de acordo com Kelsen, e conforme os argumentos acima elencados, não se situaria dentro das ambições da Teoria do direito. Discutir sobre a justiça, para Kelsen, é tarefa da Ética, ciência que se incumbe de estudar não normas jurídicas, mas sim normas morais, e, portanto, incumbida da missão de detectar o certo e o errado, o justo e o injusto.

Isto não significa dizer que Kelsen não esteja preocupado em discutir o conceito de justiça, e mesmo buscar uma concepção própria acerca deste valor.[7] Isto quer dizer, pelo contrário, que toda discussão opinativa sobre valores possui um campo delimitado de estudo, o qual se costuma chamar de Ética. Aqui sim é lícito debater a justiça ou a injustiça de um governo, de um regime, de determinadas leis… Por isso, Kelsen não se recusa a estudar o justo e o injusto; ambos possuem lugar em sua teoria, mas um lugar que não o solo da Teoria Pura do Direito; para esta somente o direito positivo, e seus modos hierárquico-estruturais, deve ser objeto de preocupação.


[1]Kelsen, Teoria Pura do Direito, 1976, p. 100.

[2]“Um Direito Positivo pode ser justo ou injusto; a possibilidade de ser justo ou injusto é uma conseqüência essencial do fato de ser positivo” (Kelsen, O que é justiça? A justiça, o direito e a política no espelho da ciência, 1998, p. 364).

[3]Kelsen, Teoria pura do direito, 1976, p. 103.

[4]“A exigência de uma separação entre Direito e Moral, Direito e Justiça, significa que a validade de uma ordem jurídica positiva é independente desta Moral Absoluta, única válida, da Moral por excelência, de a Moral” (Kelsen, Teoria pura do direito, 1976, p. 104).

[5]O Direito da Teoria Pura não pode ser por essência um fenômeno moral (Kelsen, Teoria pura do direito, 1976, p. 107).

[6]“De fato, muitas e muitas normas de justiça, muito diversas e em parte contraditórias entre si, são pressupostas como válidas. Um tratamento científico do problema da justiça deve partir destas normas de justiça e por conseguinte das representações ou conceitos que os homens, no presente e no passado, efetivamente se fazem e fizeram daquilo que eles chamam justo, que eles designam como justiça. A sua tarefa é analisar objetivamente as diversas normas que os homens consideram válidas quando valoram algo como justo” (Kelsen, O problema da justiça, 1998, p.16).

[7]Daí dedicar-se, fora de sua obra Teoria pura do direito, a extensas investigações sobre a justiça, tendo publicado inúmeros artigos, e se detido com muito afinco no estudo de algumas teorias sobre a justiça, como, por exemplo, a teoria platônica da justiça, que se tornou obra coesa, publicada postumamente (O que é justiça? A justiça, o direito e a política no espelho da ciência; O problema da justiça; A ilusão da justiça…).

Imagine a Sua Vida Como um Livro...

O primeiro capítulo começou a ser escrito no período de gestação, sem a sua participação direta. Você nasce, e um novo capítulo se inicia, agora escrito por um grupo maior de pessoas: pais, avós, tios etc. Isto continua por um período, até que você manifeste suas vontades e então passe a colocar a sua marca em seu próprio livro. O fato é que tudo que você é hoje, seus gostos e vontades, suas intenções e comportamentos, seus desejos e perversões, enfim, tudo está referendado em seu próprio livro, sua própria história. Você sabe que ninguém vai dormir, por exemplo, com deficiência de caráter e acorda totalmente modificado, bonzinho. Está escrito em seu livro! Você é o que é porque existe uma história, um trajeto.

Em alguns momentos você resolve repassar o seu livro e percebe então que existem alguns capítulos que realmente não gostaria que existissem, desejando mesmo esquecê-los, apagá-los. Mesmo que os esqueça, temporariamente, sabe que em momentos de revisão tornam a aparecer. Parece impossível eliminá-los.

Na verdade, as transformações são possíveis sempre no tempo presente, no capítulo atual, mesmo que seja pela re-significação do que foi escrito, um novo entendimento. A grande responsabilidade é sua e você pode assumi-la ou eximir-se, lamentar ou arregaçar as mangas. Você escolhe! Você pode mudar a sua atitude em relação ao atual e aos próximos capítulos, ou seja, aquilo que você escreve agora é o mais importante, é o que pode transformá-lo, fazê-lo crescer. Portanto, pense hoje sobre como gostaria que fosse escrita a sua história e mãos a obra. Se precisar, em algum momento, peça ajuda para quem sabe escrever ou já escreveu uma grande obra. Lembre-se que em cada intenção e atitude sua, há um muito de você!

A Revolução Digital

A Internet, a rede mundial de computadores, teve seu início no final da década de 60 quando foi criada a ARPANET, com o intuito de descentralizar dados através de vários computadores interligados, porém a internet tal qual a conhecemos e usamos hoje surgiu no início dos anos 90 quando pesquisadores do CERN (Organização Européia Para a Pesquisa Nuclear) criaram o world wide web - o www que aparece diante do nome de sites - que, padronizando a exibição de documentos nos computadores, permitiu sua visualização sem que o usuário tivesse necessidade de conhecer profundamente sobre programas de acesso à rede. Esta facilidade de acesso popularizou a Internet que, até então, estava relegada a fanáticos por computadores, profissionais da área e pesquisadores que necessitavam de rapidez na troca de informações.

A popularização da rede mundial de computadores está provocando uma grande revolução na sociedade global: cada vez mais e mais pessoas começam a acessar a Internet e descobrem-se diante de um maravilhoso mundo novo, repleto de possibilidades: ler notícias online, pesquisar, visitar museus virtualmente, procurar emprego. Cada vez mais e mais pessoas inserem o uso da rede em seu dia-a-dia: aumentando sua produtividade ao estar diretamente em contato com colaboradores e clientes, conhecendo pessoas de todos os cantos do mundo com interesses similares, divulgando seu próprio negócio.

Desta forma, relações pessoais, comerciais, de consumo e de trabalho, entre outras, passam pela rede mundial de computadores, provocando uma revolução jamais vivida pelo mundo até hoje.

A internet traz consigo uma globalização maior do que aquela provocada pelas grandes navegações, que descobriu novos continentes e ampliou como nunca, até então, os mercados ao oferecer novos e desconhecidos produtos. Cria novos postos de trabalho com a mesma velocidade com que fecha outros com uma rapidez muito maior do que aquela provocada pela revolução industrial. Democratiza o acesso a informações a muito mais pessoas e com mais amplitude que a invenção da imprensa por Guttemberg o fez.

Aqueles que não têm acesso à rede mundial de computadores estão sendo excluídos desta revolução. Vivem o que se chama de exclusão digital. A exclusão digital é um problema sério que deve ser combatido por todos os governos. A diferença entre alguém que sabe usar um computador e acessar a Internet daquele que não sabe nada sobre este assunto (uma vítima da exclusão digital) pode, em alguns anos, ser tão grande quanto a que existe entre um analfabeto e um alfabetizado. Exagero? Nem tanto. Um "analfabeto" digital terá dificuldade de conseguir emprego já que mais e mais empresas colocam em seus sites institucionais um 'trabalhe conosco' que abre uma página em que convida o visitante a enviar seu currículo. Como ficam aqueles que não tem acesso ao site?

Nosso país precisa investir na democratização do acesso à Internet, em mais incentivos fiscais e programas sociais que barateiem o preço de computadores e popularizem seu uso e, principalmente, na educação para o uso destes instrumentos.

Óbvio que as pessoas têm direito à escolha do não uso da Internet. O uso da rede mundial de computadores jamais poderá ser compulsório. Todo cidadão tem o direito de não querer comprar pela Internet, de não fazer transações nos sites dos bancos, de entregar sua declaração de renda em disquete e não pelo computador, de pesquisar em livros dentro de bibliotecas e não em mecanismos de busca; porém, antes de exercer este direito de escolha, ele tem o direito básico de conhecer a Internet, de saber como funciona, ter acesso à rede, para só assim poder dizer que não quer usá-la. Deixar que pessoas não tenham acesso à Internet é condená-las a ver a história passar diante de seus olhos sem que embarquem nela.

Trabalho Voluntário: A Solidariedade

O trabalho é um conceito tão ligado à natureza e vida humanas que dificilmente paramos para refletir sobre ele. Sua valoração sofreu modificações ao longo da história - dê sua aparição no livro gênesis da Bíblia como condenação que acompanha a perda do paraíso; passando pela Grécia Antiga, onde o trabalho cabia aos escravos, ficando, os cidadãos, livres para a reflexão e a participação na vida política da cidade; atravessando a Idade Média, onde o trabalho cabia àqueles que não nasceram nobres nem seguiam a vida eclesiástica; até o início da Primeira Revolução Industrial, onde o trabalho aparecerá na forma como o conhecemos hoje, a venda da mão-de-obra para o capital - cada sociedade deu-lhe um valor ou um significado, mas nenhuma existiu sem ele.

No capitalismo, a sociedade, a grosso modo, divide-se entre aqueles que detêm o capital e aqueles que, por só possuírem sua força de trabalho, a vendem. Assim, a noção do trabalho 'verdadeiro' sempre esteve ligada à idéia de auferir ganho com esta atividade e o trabalho voluntário, quando surgiu, foi considerado como atividade para pessoas desocupadas. Todavia, esta noção está mudando.

A incapacidade do Estado de suprir as necessidades básicas de seus cidadãos, principalmente dos menos favorecidos, levou a iniciativa privada a assumir tarefas que antes eram consideradas exclusivas do Estado, o que se chamou de Terceiro Setor. A origem da expressão está ligada ao fato de que o Estado é considerado o primeiro setor e, por sua vez, o mercado, apenas voltado à geração de lucro, o segundo setor. Assim, organizações não governamentais e entidades filantrópicas substituem o Estado naquilo que ele é insuficiente para prover à população e, para tanto, estas entidades necessitam de pessoas dispostas a trabalhar, não por dinheiro, mas pela satisfação de ajudarem o próximo, por solidariedade. Esta modalidade de trabalho voluntário já era comum no que se denomina de serviço religioso cujo intuito de ajudar está ligado à caridade cristã.

O Terceiro Setor não prescinde da caridade cristã, todavia vai além, pois o trabalho voluntário busca, sempre, a satisfação de um ideal, que pode ser espiritual ou uma causa social ou ambiental. O trabalho voluntário é a solidariedade aplicada ao próximo, que não busca uma retribuição material.

A Delicada Questão da Água Potáve

Se até alguns anos atrás, a idéia de pessoas duelando por fontes de água em um mundo desértico só passava pela cabeça de roteiristas de filmes futuristas de gosto duvidoso, hoje esta previsão sombria faz parte da agenda de preocupações da Organização das Nações Unidas (ONU).

No exato momento em que você lê este artigo há pessoas com sede e sem água para beber. Pode parecer estranho afirmar que a água doce, a água potável, do planeta está atingindo níveis críticos quando praticamente 80% de sua superfície é coberta por água, porém, nem toda esta água é potável. Grande parte da água que encobre o planeta é salgada. E, ainda, parte das reservas de água doce estão sendo poluídas: através dos esgotos domésticos e industriais não tratados, do uso indiscriminado de agrotóxicos na agricultura; desperdiçadas: através da irrigação de plantações, mau uso de água tratada; ou, ameaças: ocupação de áreas de mananciais, desertificação de regiões desmatadas.

Mesmo países com grandes reservas de água doce, como é o caso do Brasil, EUA e África do Sul, já enfrentaram ou enfrentam problemas com abastecimento de água em algumas regiões. Para nos atermos apenas ao caso específico de nosso país e desconsiderando os problemas crônicos de seca de determinadas regiões do Nordeste, a grande São Paulo já passou por vários problemas de abastecimento, impondo severos racionamentos de água à sua população.

A água é o elemento básico para a vida. Básico, simples, mas jamais reproduzido em laboratório. Embora a fórmula seja simples - dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio (H2O) - ela nunca foi sintetizada. Não sendo possível reproduzi-la, resta aos governos duas alternativas que já vem sendo utilizadas com sucesso em alguns países: a reciclagem da água de esgoto e a dessalinização da água salgada. O grande empecilho a estas medidas são seus custos. Ainda que os custos destes processos tenham barateado nos últimos anos, eles continuam caros quando comparados a mera capitação e tratamento da água doce.

A questão da água potável é delicada e séria. É um tema que não se restringe apenas a governantes e técnicos, mas também à população em geral, que deve se informar sobre o assunto, educar-se para evitar o desperdício e cobrar de seus representantes eleitos as devidas medidas.

ivagações e Pensamento

1. O mar revolto e tenaz é um exemplo claro do mundo da vida. O método é o cosmo completo, complexo. As escolhas são o microcosmo que coletivamente refletem o nosso método, a forma de viver, de escolher sermos felizes nas ondas ou nas marés de lua nova. Aí está a grande diferença: a maré é calmaria e, portanto, traz-nos paz, estabilidade, mas também estagnação, conformismo. Já as ondas refletem o fluxo contínuo de mudança, traz-nos o empirismo constante, a prova de gostos, de sensações, mas também, com o tempo irrequieto, dedica-nos o cansaço, instabilidade, ansiedade. O difícil é dosar a quietude com a volúpia. E nessa toada, não tenho dúvida: sou mais a volúpia!

2. A hipocrisia nos reduz em seres plenamente civilizados. Ser plenamente civil é atender ao sistema sem nuanças, é ser social. E assim não pensamos, e sim respondemos a estímulos pré-programados. Transgredir é preciso. Não há rompimento de paradigmas sem a criação de um novo. Ocorre que não criamos, mas tão-somente experimentamos o gozo alheio. A grande questão é assimilar o desprezo social, o isolamento inevitável (apolítico) com a harmonia do ego, pois sem essa o homem não se sustenta e sem alicerce a hipocrisia nos oferece, tempestivamente, a sua droga hipnótica que nos recoloca em veredas predispostas. Árdua, pois, é a tarefa de privilegiar o ego sem, contudo, isolar-se do globo.

3. Se eu tivesse toda a sabedoria para lidar com os sentimentos e com as paixões, não passaria de um grande insensato. Viveria bem comigo mesmo, mas magoaria todos os amores que conhecesse. Seria natural a conquista e inevitável o descarte. Esta ação não se realizaria por menosprezo alheio, seria inevitável tal ato, haja vista que, após a conquista, novas terras se desnudariam. O foco se ateria na manipulação de desejos sem, contudo, prejudicar o lírio enquanto desabrochado. Amaria muito, mas talvez nunca enxergasse um grande amor.

4. Dentre as frustrações de um homem, a que mais lhe atormenta é o amor prometido, mas de cumplicidade já comprometida a outrem. Sempre esperamos por novas oportunidades, novos fatos, mas sempre pelo mesmo amor. Ludibriamo-nos por sinais de cumplicidade, que nada mais são do que sinais de carinho obscuros e confusos na tênue linha do amor. É crítico ver tanta beleza e não poder tocá-la, mas com um pouco de sabedoria vejo que não posso me culpar, pois de tudo eu fiz para que tudo acontecesse. Faltou querer, o seu querer. E é com essa razão que, agora, consigo viver em paz, mesmo indo e sobrevindo em ondas de um querer sempre irresoluto, que não se acalma, pois minha estrutura é assim, de âmago inconseqüente, mas deixando você livremente seguir pela cômoda maré que há tempos já se encontra aos seus pés.

5. Não adianta cobrar do tempo reações práticas extemporâneas se nem ao menos sabemos se nossos sonhos em algum dia se realizarão. Apesar de racionalmente simples e mítico, o pensamento positivo vale à pena, pois nos dá a abstrata segurança de que nossos desejos chegarão à realidade, ainda mais quando observamos com limpidez que a vida e o mundo concorrem para determinado resultado, para determinado encontro. Em algum dia, você verá que apesar das voltas que demos, mesmo que por caminhos distintos, nada disso fez mudar o nosso destino, mas apenas procrastinou a nossa conjunta caminhada.

6. Se pensássemos sob a ótica profana, deixaríamos sempre o prazer nos governar. A razão seria relegada a plano secundário e dar vazão à carne seria o foco principal. Deletério seria pensar na pureza da carne e privilegiar a razão sem devaneios. È fácil perceber que a vida moderna regrada nos leva ao tédio, haja vista que a ausência de prazer não gera motivação para as veredas diárias a serem desbravadas. Não há fim, alcance de desejo sem interesse hedonista. Aliás, desejo é o interesse de consumação na ordem prática de um prazer egoístico-ideal. Creio que a futilidade se faz necessária na medida em que a vida não é uma arena formal, estável e métrica. Há sim instintos, imbecilidades ingenuidades, doses de amor e rebeldia no complexo equilíbrio entre ganhar a vida e ser feliz sem mitigação do próprio eu.

7. Um amor deve ser vivido naquele exato momento em que se desperta. Se pararmos para pensar sobre sua viabilidade ou suas conseqüências, nada ocorrerá. Não haverá amor que perdure no tempo, que espere o desatino de seu encontro a bel prazer por seus pares. O amor simplesmente vem, dá-nos seu sinal, no início tênue e no fim avassalador. Siga-o quem se encoraja para tanto. Caso contrário, a vida não teria graça e a mesmice inundaria nossos corações de tédio e de opacidade. E não adianta enganá-lo, pois um dia o amor lhe cobrará. Nesse tempo, não haverá mais promessas que o farão voltar. Apenas um pedaço da história não é suficiente para ensejar um final feliz. Ficam a retórica e a nostalgia, entes solitários que alimentam restos de ansiedade por um reviver tão distante e remoto, mas que, no mundo da vida, possível se faz o seu regozijo.

A Perpétua Sensação de Insegurança

Os altos índices de criminalidade que as grandes cidades brasileiras vêm presenciando, somados à inédita barbárie com que estes são praticados, levam muitas pessoas a afirmarem que jamais a população sentiu tanto medo. A afirmação, no entanto, é errônea. Com exceção de poucos momentos da história, como os períodos dos pós-guerras, em que se vivia uma grande euforia, o medo sempre foi uma constante na vida das pessoas. O que mudou e muda continuamente é o foco, ou ainda, a origem, de nossos medos.

Por muito tempo sentia-se medo do estrangeiro que viria saquear, pilhar ou mesmo submeter todo um povo ao seu domínio. Parte dos movimentos migratórios da Antiguidade e da Idade Média devem-se às guerras de expansão: toda a parcela de um povo fugindo na direção contrária dos invasores de seu território. Mesmo após os países delimitaram suas fronteiras, permanecia o medo da guerra, e da fome que sempre a acompanhava. Sem esquecermo-nos do medo das muitas epidemias então completamente desconhecidas que ceifavam vidas em qualquer idade. O século XX, em seus derradeiros anos, conheceu o medo da guerra atômica e o século XXI iniciou-se com o do inimigo sem face, cujo único intuito é espalhar o terror.

Em alguns países, como o nosso, vivencia-se o medo da criminalidade, do poder paralelo que desafia o poder estatal. Em outros países, há o medo do terrorismo; em tantos outros, da guerra civil, que assola ou pode voltar a assolar o país.

Assim, esta sensação de insegurança sempre existiu para cada pessoa, mistura de nosso instinto de sobrevivência com a consciência de nossa própria mortalidade. Todavia, se a sensação do medo é ruim, é ela que mantém todo um povo obedecendo às leis de um Estado. O direito, diferente de leis morais ou religiosas, possui o poder de punir quem o descumprir. A não obediência a um comando legal gera a chamada sanção, a punição pelo não cumprimento da ordem genérica dada pelo Estado. Daí porquê a maioria das pessoas respeita às leis, não por boa educação, mas por medo da punição estatal.

Segundo Hobbes, em seu clássico Leviatã, as pessoas vivem perpetuamente em um estado de insegurança: quando não há o Estado para lhes proteger, quando vivem no chamado estado de natureza, têm medo porque todos desfrutam da liberdade total, que desconhece qualquer limite e todos podem fazer tudo, prevalecendo, óbvio, o poder do mais forte. Assim, aceitam o domínio do Estado, que os protege. Porém, mesmo vivendo sob a proteção do Estado, as pessoas têm medo, agora do Estado que as governa e, portanto, obedecem às leis impostas. Devido ao medo que o Estado impõe para que sejam cumpridas suas leis, é que Hobbes escolheu a figura do Leviatã, um monstro bíblico, para representar o governo que imaginava imporia suas regras infringindo medo em seus súditos como um imenso monstro apocalíptico que, abrindo suas enormes asas, projeta, junto à sua sombra, o temor de sua ira.