sábado, 14 de março de 2009

ivagações e Pensamento

1. O mar revolto e tenaz é um exemplo claro do mundo da vida. O método é o cosmo completo, complexo. As escolhas são o microcosmo que coletivamente refletem o nosso método, a forma de viver, de escolher sermos felizes nas ondas ou nas marés de lua nova. Aí está a grande diferença: a maré é calmaria e, portanto, traz-nos paz, estabilidade, mas também estagnação, conformismo. Já as ondas refletem o fluxo contínuo de mudança, traz-nos o empirismo constante, a prova de gostos, de sensações, mas também, com o tempo irrequieto, dedica-nos o cansaço, instabilidade, ansiedade. O difícil é dosar a quietude com a volúpia. E nessa toada, não tenho dúvida: sou mais a volúpia!

2. A hipocrisia nos reduz em seres plenamente civilizados. Ser plenamente civil é atender ao sistema sem nuanças, é ser social. E assim não pensamos, e sim respondemos a estímulos pré-programados. Transgredir é preciso. Não há rompimento de paradigmas sem a criação de um novo. Ocorre que não criamos, mas tão-somente experimentamos o gozo alheio. A grande questão é assimilar o desprezo social, o isolamento inevitável (apolítico) com a harmonia do ego, pois sem essa o homem não se sustenta e sem alicerce a hipocrisia nos oferece, tempestivamente, a sua droga hipnótica que nos recoloca em veredas predispostas. Árdua, pois, é a tarefa de privilegiar o ego sem, contudo, isolar-se do globo.

3. Se eu tivesse toda a sabedoria para lidar com os sentimentos e com as paixões, não passaria de um grande insensato. Viveria bem comigo mesmo, mas magoaria todos os amores que conhecesse. Seria natural a conquista e inevitável o descarte. Esta ação não se realizaria por menosprezo alheio, seria inevitável tal ato, haja vista que, após a conquista, novas terras se desnudariam. O foco se ateria na manipulação de desejos sem, contudo, prejudicar o lírio enquanto desabrochado. Amaria muito, mas talvez nunca enxergasse um grande amor.

4. Dentre as frustrações de um homem, a que mais lhe atormenta é o amor prometido, mas de cumplicidade já comprometida a outrem. Sempre esperamos por novas oportunidades, novos fatos, mas sempre pelo mesmo amor. Ludibriamo-nos por sinais de cumplicidade, que nada mais são do que sinais de carinho obscuros e confusos na tênue linha do amor. É crítico ver tanta beleza e não poder tocá-la, mas com um pouco de sabedoria vejo que não posso me culpar, pois de tudo eu fiz para que tudo acontecesse. Faltou querer, o seu querer. E é com essa razão que, agora, consigo viver em paz, mesmo indo e sobrevindo em ondas de um querer sempre irresoluto, que não se acalma, pois minha estrutura é assim, de âmago inconseqüente, mas deixando você livremente seguir pela cômoda maré que há tempos já se encontra aos seus pés.

5. Não adianta cobrar do tempo reações práticas extemporâneas se nem ao menos sabemos se nossos sonhos em algum dia se realizarão. Apesar de racionalmente simples e mítico, o pensamento positivo vale à pena, pois nos dá a abstrata segurança de que nossos desejos chegarão à realidade, ainda mais quando observamos com limpidez que a vida e o mundo concorrem para determinado resultado, para determinado encontro. Em algum dia, você verá que apesar das voltas que demos, mesmo que por caminhos distintos, nada disso fez mudar o nosso destino, mas apenas procrastinou a nossa conjunta caminhada.

6. Se pensássemos sob a ótica profana, deixaríamos sempre o prazer nos governar. A razão seria relegada a plano secundário e dar vazão à carne seria o foco principal. Deletério seria pensar na pureza da carne e privilegiar a razão sem devaneios. È fácil perceber que a vida moderna regrada nos leva ao tédio, haja vista que a ausência de prazer não gera motivação para as veredas diárias a serem desbravadas. Não há fim, alcance de desejo sem interesse hedonista. Aliás, desejo é o interesse de consumação na ordem prática de um prazer egoístico-ideal. Creio que a futilidade se faz necessária na medida em que a vida não é uma arena formal, estável e métrica. Há sim instintos, imbecilidades ingenuidades, doses de amor e rebeldia no complexo equilíbrio entre ganhar a vida e ser feliz sem mitigação do próprio eu.

7. Um amor deve ser vivido naquele exato momento em que se desperta. Se pararmos para pensar sobre sua viabilidade ou suas conseqüências, nada ocorrerá. Não haverá amor que perdure no tempo, que espere o desatino de seu encontro a bel prazer por seus pares. O amor simplesmente vem, dá-nos seu sinal, no início tênue e no fim avassalador. Siga-o quem se encoraja para tanto. Caso contrário, a vida não teria graça e a mesmice inundaria nossos corações de tédio e de opacidade. E não adianta enganá-lo, pois um dia o amor lhe cobrará. Nesse tempo, não haverá mais promessas que o farão voltar. Apenas um pedaço da história não é suficiente para ensejar um final feliz. Ficam a retórica e a nostalgia, entes solitários que alimentam restos de ansiedade por um reviver tão distante e remoto, mas que, no mundo da vida, possível se faz o seu regozijo.

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