Passados 91 anos da temida pandemia daquela que foi chamada de “gripe espanhola”, pouco se houve falar no Brasil acerca das vítimas da temível doença que assolou o mundo em 1918/1919.
Para quem tiver interesse, recomendo o livro “A gripe espanhola em São Paulo, 1918: epidemia e sociedade, de Claudio Bertolli Filho, publicado pela editora Paz e Terra S/A, ISBN 85-219-0586-6.
Trata-se de um trabalho de mestrado do autor, sendo uma obra de valor histórico imprescindível para aqueles que querem saber um pouco mais sobre o que ocorreu de verdade naquela época.
Permito-me aqui a descrever pequenos trechos da obra, (págs. 71/73), que servem de um alerta às autoridades e à população menos cuidadosa, como comparativo ao que vemos hoje:
“Renunciando à questão da determinação da origem geográfica da pandemia, sabe-se que essa primeira vaga gripal em poucos meses espalhou-se por todo o continente europeu e também pela Nova Zelândia, África do Sul e América do Norte. Com um grau de letalidade nada diferente das epidemias de influenza ocorridas no século XIX, a gripe estava praticamente extinta em fins do mês de julho do mesmo ano de 1918. Considerada uma manifestação epidêmica pouco grave e de curta duração, a influenza não constituiu, nesse período, motivo de alarde para nenhuma sociedade.
Em fins de agosto de 1918 iniciou-se a segunda vaga epidêmica, caracterizada por altas taxas de infectividade, patogenecidade e virulência. Até fins de novembro, praticamente todos os quadrantes do mundo já haviam entrado em contato com a gripe, excetuando-se a Austrália que, em razão de uma rígida política sanitária, só foi invadida pela moléstia em janeiro do ano seguinte.
Nesse período a epidemia ganhou traços próprios que a distinguiram de suas antecessoras. A virulência da gripe, isto é, a letalidade da doença, se antes era de um único óbito em cada 10 mil infectados, dirante a segunda vaga elevou-se para 300 mortes. Ainda mais, os estudos sobre essa pandemia são unânimes em afirmar que a população adulta era a mais vitimada pela influenza: cerca de 50% de todos os óbitos gripais ocorridos da Europa e nos Estados Unidos deu-se em indivíduos que contavam entre 20 e 35 anos de idade.
A epidemia grassou principalmente no meio urbano, permanecendo ativa por cerca de seis semanas, quando foi perdendo as características de alta virulência e infectividade, fato que constitui até hoje uma das grandes incógnitas da questão gripal.
A mortalidade gripal foi imensa….”
“… Os estudiosos do assunto estão longe de um consenso sobre o número de pessoas infectadas pelo vírus gripal durante a pandemia de 1918-1919. Contudo, fala-se em um mínimo de 200 milhões de atingidos. Linus Pauling amplia este número para 80 ou 90% de toda a população mundial, algo em torno de um bilhão de indivíduos….”
“… Quanto ao total de óbitos por influenza, os especialistas são mais cordatos. Calcula-se que a pandemia de 1918-1919 foi responsável por cerca de 20 milhões de mortes, cifra próxima a 1,5% de toda a população mundial do período. Em outros termos, a pandemia gripal matou um número de pessoas bem superior à Primeira Guerra Mundial em todo seu curso.”
Diante do relato de fatos verídicos, vê-se porque de minha preocupação e de alguns colegas, pelo que pedimos maior atenção às autoridades, eis que trazendo à tona fatos históricos perdidos no tempo, vê-se muitas semelhanças que não devem ser ignoradas, e não apenas por se tratar do mesmo tipo de vírus, mas também pelo quadro que se vislumbra atualmente.
A importância do acompanhamento do que ocorre em todas as regiões afetadas pelo H1N1 deve-se ao fato de que a qualquer momento o vírus mutar a ponto de trazer novamente as terríveis manchetes de 1918/1919, e que caso isso ocorra, estaremos diante da que pode ser a maior tragédia da humanidade.
Torcendo para estar errado, mas com receio do que pode vir a ocorrer, o fundamental é a prevenção.